Um lugar com uma das mais belas vistas da cidade do Rio de Janeiro, o morro Dona Marta, localizado em Botafogo, Zona Sul da capital, abriga, desde os anos 90, o projeto Casa de Maria e Marta, trabalho social e evangelístico que faz a diferença na vida das crianças que residem na comunidade. Mais de duas mil crianças já passaram pelo projeto e muitos, hoje, adultos, retribuem o amor que receberam dedicando um pouco do seu tempo ao lugar que foi instrumento de transformação em suas vidas.

Fundado e comandado pela missionária Edmeia Williams, a Casa de Maria e Marta é um suporte para as mães que trabalham fora e não têm onde deixar seus filhos. De portas abertas de segunda à sexta-feira, o projeto oferece reforço escolar, e aulas de informática, música, dança e de inglês, às quartas-feiras, numa parceria com a Igreja Anglicana, localizada bem pertinho da comunidade. Quatro professores se revezam no trabalho, fora os de inglês que são voluntários.

Cerca de 80 crianças de 5 a 12 anos são atendidas pelo projeto socioeducativo e que também possui cunho evangelístico. Matriculadas na rede pública de ensino, as que participam pela manhã chegam para tomar o café, e, em seguida, começam as atividades escolares. Às 11h, o almoço é servido e, logo depois, elas partem para a escola regular. Não demora muito, a segunda turma chega para o almoço e fica até às 16h. Nesse período, também é servido um lanche.

Tia Heloisa do Carmo é a responsável pela comidinha gostosa que as crianças tanto apreciam. “Eu gosto de tudo o que a tia Heloísa faz de comer, porque ela faz com amor”, revela Alessandra, de nove anos. “Aqui produzimos o nosso próprio pão. Assim, reduzimos os custos e podemos investir em outros alimentos para reforçar o almoço. Este trabalho é a coisa mais preciosa que eu faço”, comenta Heloísa, que está há 15 anos na instituição.

Por um futuro melhor

A Casa de Maria e Marta faz a diferença para quem recebe, doa amor e ensina princípios que serão levados para toda a vida. Há 25 anos trabalhando na instituição, Patrícia Pereira, chegou ao projeto para fazer faxina, levando junto o filho, Wallace, na época com seis anos. Hoje, aos 31 anos, Wallace dá aula de informática para as crianças. “Aprendi a ser quem sou na Casa de Maria e Marta”, revela o rapaz.

“Sempre fiz de tudo um pouco. Assim como meu filho, que já saiu daqui, mas não perdeu o vínculo, muitos estão na faculdade, permanecem na igreja, trabalham fora, mas continuam ligados ao projeto”, revela Patrícia. Para a norte-americana, Christina Ramos, as aulas de inglês são um espaço de troca de experiência. “Eu gosto muito das aulas. As crianças são participativas e entusiasmadas. É uma oportunidade para reforçar o que eles aprendem na escola, aprender sobre a vida delas e compartilhar cultura”, comenta a professora que integra a equipe de voluntários que dão aulas de inglês.

Wagner de Moraes, professor de música e estudos bíblicos, considera que a Casa de Maria e Marta atua em áreas fundamentais: o urgente, o importante e o essencial. Para ele, é urgente tirar as crianças da rua, do convívio com as más influências, oferecendo-lhes um lugar com boas instalações, e atividades produtiva e educativa, além de refeições.

 “O ensino visa à educação de longo prazo. A formação e automação da criança como indivíduos. O essencial, que não pode se perder, é a Palavra de Deus. Por isso, ela é pregada e ensinada em todas as aulas. Oramos, ensinamos seus princípios e valores, de modo que as crianças não se desviem e guardem seus estatutos. Este é, creio, o verdadeiro legado da Casa de Maria e Marta”, opina o professor.

A história conta que os primeiros moradores do Dona Marta chegaram à comunidade nos anos 30. Famílias simples de trabalhadores que não tinham onde morar na época. O tempo passou, a cidade e a população cresceram, trazendo novas complexidades para o Morro. As vielas estreitas revelam a carência e a falta de infraestrutura do lugar. Mas, a Casa de Maria e Marta propõe-se a mudar a trajetória de quem passa por ali mostrando que o futuro pode ser muito melhor do que se apresenta.